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Por onde ir*

Como dizia o poeta português José Silva “Não sei por onde vou. Mas sei que não vou por aí” Este parece ser um pensamento atual, significativo, pois a cada ano em nossa vida vamos compreendendo  mais e mais os descaminhos tomados pela humanidade, e os desencontros que hoje se apresentam. Há muito pensadores, intelectuais, cientistas que se debateram sobre essa questão: sobre as falhas civilizatórias! Apenas para citar alguns clássicos, entre o quais, Marx, Nietzsche, Heidegger, Sartre, Zigmund Bauman, Leonado Boff, Boa Ventura de Sousa Santos.

Trata-se por falhas o entendimento que necessitamos fechar portas por onde entra a violência, a estupidez, a morte, a guerra, a fome, o desemprego, a destruição ambiental, entre outras. Vivemos tempos difíceis para os sonhos, para as utopias, pois a brutalidade em voga tem bloqueado as boas perspectivas. As constantes reformas do sistema hegemônico com uso de novas terminologias encaminhamentos como inovação, empreendedorismo, sustentabilidade adjetiva, teologia da prosperidade, governança, são formas que estabelecem prolongamentos que impedem sonhos-utopias críticas. Juntando-se aos pessimistas, os conservadores, os reacionários todos estabelecem bloqueios, engessam em seus tempos, seus espaços, suas instituições, suas crenças, seu moralismo, seus interesses.

Todos fecham as porta para o amanhã, pois entendem este, apenas como um prolongamento do que existe aperfeiçoado. Mantêm abertas as mesmas portas, para os mesmos percursos, para os mesmos passarem, sendo que muitos outros ficarão retidos, assim é a história para eles. 

 Não pensamos dessa forma, tratamos de abrir portas para os sonhos-utopias alternativas, pois há um amanhã a ser construido. Estes somente acontecem com pessoas sensíveis, abertas, solidárias para com a vida e a natureza. Trata-se de pessoas que a creditam em democracias de alto teor, em trilhar passos sustentáveis substantivos já percorridos e, outros tantos, ainda a descobrir.  O que se coloca, neste teor, diz respeito às utopias libertadoras e emancipatórias ao mesmo tempo e, não simplesmente reproduzir idéias econômicas e sociais conservadoras, que simplesmente radicalizam o presente como se referia Boa Ventura de Souza Santos.  O Autor comenta que “uma via nova não é fácil, porque às vezes temos de encontrar o que é semelhante, e o semelhante é um ponto de partida, não de chegada” (P.54, Renovar a teoria…) O que é semelhante na trajetória humana tem demonstrado potencial organizador, articulador de princípios e fundamentos de equilíbrio, equidade, sensatez. Sobre essas bases podemos assentar uma civilização, um novo ponto de partida que todos nós conhecemos de uma forma ou de outra, mas que devido aos processos violentos na dimensão objetiva e subjetiva não possibilitou, até o momento, a humanidade reconhecer ser por aí um trilhar possível.

Vivemos um momento de aprendizagens, de exercícios de ideais libertadores em todas as dimensões. Preparar através do estudo, do ensino do pensar sobre que portas são possíveis ao amanhã ser percorrido com um nível de segurança, prudência, decência e solidariedade.  “É preciso conversar muito mais, dialogar muito mais, buscar outra metodologia de saber, de ensinar, de apreender” (BSS, p.57 Renovar a teoria…) Buscar nos diálogos, trocar ideias e experiências é algo que devemos ir à busca. Sem esquecer que os cientistas sociais tem se preocupado em decifrar as leituras e experiências do passado poucos tem se dedicado a pensar e decifrar o futuro. É necessário ingressarmos nessa fase preparatória para que possamos fertilizar na criatividade e no exercício das utopias críticas identificarmos sinais, pistas por onde passamos trilhar, sem as certezas do passado, mas com angustia conhecedora do futuro.

O que esta em debate é a garantia da continuidade da vida neste planeta em condições minimamente aceitáveis no ponto de vista das relações humanas, de maneira geral e, no ponto de vista da natureza no qual necessitamos. Não parece ser impossível pensar um novo mundo, pois temos essa condição que sempre nos acompanhou desde os primórdios da humanidade, em alguns momentos ela tem se manifestado de forma isolada, em outros tem se resignado diante de tanta insensatez. Mas as oportunidades continuam a existir em nossa frente.

*Paulo Bassani é cientista social, escritor e prof. universitário