Vivemos tempos de incertezas, de angustias, tempos de tensão, tempos de descrença...
Isto gera para nossa condição humana um tempo possível de pensar novas possibilidades. Um tempo de pensar novas ideias, problematizar o passado e o presente, e lançar bases de futuro. Trata-se de rever profundamente nossa maneira de pensar e habitar o mundo. Nessa dimensão, no tempo que escrevo , torna-se um tempo possível de pensar novas formas de sociabilidade, convivialidade, de produção, de consumo.
Hoje, também, é um tempo possível de pensar novas formas na esfera política, portanto um tempo de pensar formas de re-construir, ampliar a democracia, um tempo para pensar as diversidades existentes de nosso povo de nossa gente. E há tantas diferenças, econômicas, sociais, étnicas, culturais, religiosas. Nesse sentido é um tempo possível de ampliação dialógica em todas as esferas entender e ouvir melhor a natureza humana que pede passagem para um novo tempo pós-pandemia. O longo inverno social está para findar e a primavera irá chegar.
Há uma degradação da economia e da política, determinada por um tipo de produção, mercado e consumo, abalado em todas as dimensões. Há evidencias que a democracia é, sobretudo, de mercado, onde anula o cidadão e estabelece a figura do consumidor. Um tempo que vigora formas de desencantamento da democracia pelas ameaças que nos cercam. Continua depois da publicidade
Necessitamos pensar, dialogar, planejar, sonhar e mudar as coisas. E elas não mudam facilmente, há muito que pensar muito que fazer. Algumas mudanças ocorrem, as transformações são mais demoradas, mais laboriosas e exigem um esforço muito maior.
Não podemos cair numa esteira de desencantamento, de escuridão de distopia. Devemos nos deixar levar pela reconstrução de possibilidades, alternativas, formas possíveis, emergentes e necessárias para cruzarmos as próximas décadas. Teremos que permanentemente tentar outras e novas formas, comum num exercício do pensar permanente da análise. Porém nem tão comum quando se trata de um cotidiano endurecido por formas de sobrevivência que bate a sua porta.
Mas as utopias não morem, elas são “verdades prematuras” como dizia o pensador espanhol Alfonse de La Martine, elas nos fazem caminhar, ir um passo mais adiante e, nesta caminhada, verificar os elementos que permitem outras formas de combinação, e porque não as que ainda não existem e sequer foram testadas. Não podemos assistir sempre aos mesmos filmes, depois de um tempo eles se apagam e há necessidade de escrevermos novos roteiros cinematográficos para nossas vidas. Roteiros construímos a muitas cabeças pensantes, com as experiências colhidas ao longo da trajetória de vida. Vida vivida, vida experimentada e que clama por dias melhores.
Paulo Bassani é Sociólogo e Professor convidado da FANORPI