A perspectiva central da visão holística é de compreender os fenômenos em sua totalidade, em toda sua abrangência. Uma episteme que se estende por uma hermenêutica que tenta suprir a narrativa de partes, isoladas, fragmentadas. O termo foi criado por Jan Christiaan Smuts em 1926 que assim definia: "tendência da natureza de usar a evolução criativa para formar um 'todo' que é maior do que a soma das suas partes". Lembrando que o termo tem origem grega “holos” que significa todo, inteiro, englobante, integral.
Deste entendimento há uma forma científica crescente que se designou chamar de holística que seguem outro fundamento epistêmico e hermenêutico próprio. Este pensar considera que a Terra é viva e que os seres humanos são parte dela, e esta compreensão dá-se através de uma modelagem teórica e metodológica inter, multi e transdiciplinar. Desta forma, questionam os fundamentos de cada ciência moderna, instituída, de origem cartesiana.
A concepção central reside na aceitação da idéia que os modelos evoluem e, ao evoluir há uma imprevisibilidade do comportamento dos fenômenos observados e percebidos. Uma explicação adequada deste princípio foi enunciada pelo geofísico Edward Lorenz, criador da analogia do “efeito borboleta”, que resumidamente, se refere a que o simples e sutil deslocamento do ar produzido pelas asas de uma borboleta pode dar início, por uma associação de forças decorrentes, a um furacão, um movimento gigantesco. O autor apresentou em seus estudos que os sistemas climáticos são sensíveis as condições iniciais desde sua origem, mesmo que sejam associadas às mudanças climáticas em curso, em decorrência das ações humanas, urbanas industriais, assim como no modelo agropecuário hegemônico. Entende-se também que há um envelhecimento do planeta, hoje com cerca de 4,7 bilhões de anos, também causado pelo aumento do calor vindo do sol, pois o sol fica mais quente à medida que envelhece, lembrando que assim ocorre com todas as estrelas do Universo.
Este pensar holístico permite-nos o reconhecimento de que somos sujeitos ativos das mudanças planetárias. Percebemos, entendemos e fazemos parte dos impactos da ação humana, nesta alta modernidade. E este entendimento nos coloca diante de um compromisso como preservadores e restauradores do patrimônio natural do planeta. E de entendimento dos significados desse compromisso universal que transcende o indivíduo no tempo e espaço, no presente e no futuro.
O olhar holístico, em última instância, enfoca o ser humano em relação ao microcosmo e o macrocosmo. O homem em sua relação, e, deste com a natureza em todas as suas determinações. Tentando englobar todo o tipo de vida e suas interações, implicando na compreensão integral da vida pela filosofia, ciência, cultura e espiritualidade. Essa unidade originária do homem e a natureza, pois como natureza esquecida cultivada pela ciência moderna, agora começa a desvendar as possibilidades que esse entendimento e equacionamento, estejam no centro das questões analíticas e compreensivas de mundo. Esta perspectiva supera toda a visão dualista, disto ou daquilo, o qual reduz os olhares e perspectivas, uma polarização muito comum no mundo de hoje, dentro de um limite analítico das coisas do mundo e das coisas que formam o mundo.
O que se evidencia na visão holística é o equilíbrio no enfoque da vida de qualidade, com a sensatez de conjunto de relações necessárias do viver, e no movimento em que os fenômenos ocorrem e se desdobram. Isso implica numa preparação consciente de que a vida está acima de tudo sendo parte e unidade de tudo e de todos.
Paulo Bassani sociólogo e professor universitário