Conhecimentos, saberes e inovações destrutivas existiram ao longo da formação e avanço da ciência. Sabemos que é preciso distinguir a ciência e seu uso, porém não há como separar as conseqüências desse processo. Assim entendemos que não há uma única maneira de olhar para a ciência. Vejo que ela é ambígua e paradoxal desde seus primórdios. Ao mesmo tempo em que foi uma das maiores iniciativas humanas geradas pela capacidade de imaginar, pensar e criar, também ela se tornou parte da escuridão e do desencantamento no processo de viver.
O pensamento científico moderno funcional-positivista criou uma anestesia mental afirmando que temos somente isso que foi criado, o que está visível para viver. Cito Francis Fukuyama que dizia termos com isso, chegado ao final da história. Todos os caminhos e, todos os modelos já estavam inventados, criados, construídos, agora apenas temos que seguir essa lógica, aperfeiçoando-a, inovando e ampliando através de suas determinações. Engessando um mundo editado e comprovado pelo capital, com uma forma de viver, pensar, trabalhar, consumir. Toda a inovação e empreendedorismo serão editados dentro desta concepção de aperfeiçoamento do sistema, ou seja, mais do mesmo, porém com inovações técnico-científicas que garantam seu prolongamento. Isso significa uma ampliação do presente, como uma redução de nossas capacidades imaginativas e criativas.
Ora, a história moderna se encarregou de demonstrar suas falácias, não ser boa nem, para todos os seres humanos, tão pouco para com a natureza. A ciência no qual acreditamos, contraria a esta, divulga e trata de caminhar no sentido de agregar avanços em todas as dimensões construtivas de mundo, tendo como princípio fornecer condições dignas de vida para todos os seres humanos com preservação da biodiversidade planetária. Nesta perspectiva ela é prudente, decente, criativa e colaborativa, tendo a compreensão da finitude humana e planetária, como pressuposto. Com essa compreensão científica, de suas limitações e finitudes, poderemos dialogar para entender os processos em curso e, do que queremos e do que podemos, assim como entender e tratar dos grandes desafios e problemas que temos pela frente e para onde estamos caminhando.
Por isso que ciência e ética devem caminhar juntas para que nos processos inventivos elas possam dialogar, entendendo as precauções, prevenções, cuidados, prudência, cautela e segurança. Aqui lembro o Princípio da Precaução, que nada mais é que a garantia contra os riscos potenciais que um determinado conhecimento técnico-científico possa ter, antes que suas manifestações diversas possam se expressar e que na origem, de maneira geral, não podem ser entendidos em sua completude. Segundo Maurício Mota, “o princípio da precaução envolve uma percepção inicial de riscos, diante da inexistência de certezas, inclusive quanto às percepções científicas”.
E sobre a incerteza da ciência em o que ela pode produzir em seus desdobramentos. Lembro do comentário de Antony Giddens, o qual afirmava: “hoje todos reconhecemos o caráter essencialmente cético da ciência, porque perdemos a ilusão da intangibilidade da certeza científica” Esta incerteza se situa num determinado tempo e espaço, por isso que todo tipo de risco deve ser considerado, que poderá gerar danos graves e irreversíveis para a humanidade.
Mesmo porque todo o conhecimento gerado pela ciência nos coloca num paradoxo ético fundamental: Criar para que e para quem e, com que fim. Este é o questionamento de hoje. Continua depois da publicidade
Paulo Bassani é sociólogo e professor universitário convidado pela FANORPI.