Mistério infame

Autores

  • Jair Ferreira dos Santos

Resumo

Grandes craques do passado e do presente têm sido responsáveis pelo respeito que é votado ao Brasil, como o país do futebol, ainda que outros também tenham crescido. Curiosamente, em certas profissões, tem havido segregação só explicável pelo ranço ainda existente na discriminação socioeconômica de uma classe, no injustificável e injustificado preconceito contra os negros Não temos noticias, entre eles, de número razoável de escultores, pintores ou cirurgiões plásticos e, principalmente, de grandes ex-jogadores, na condição de técnicos de futebol. Dos 114 técnicos negros listados pelo Google, apenas quatro são brasileiros. Ironia maior: os próprios negros, nas seleções africanas, contrataram técnicos brancos, dando exemplo falacioso ao mundo de que seus treinadores são de baixa qualidade. Entre outras justificativas estaria a concepção atávica de que, alijados do poder, nasceram para obedecer, não para mandar. Ao justificar a rejeição, a cartolagem raciocina: rejeitar é errar menos. Na contratação equivocada de um branco, a culpa é dividida; na de um negro, duplicada: pela contratação e pelo erro. O problema não chega a torcedores desatentos. E assim, cada vez mais se acentua o cinismo da frase: “No Brasil não há preconceito, porque os negros conhecem o seu lugar.”

Biografia do Autor

Jair Ferreira dos Santos

Articulista, poeta e ensaísta; autor do livro de contos Kafka na Cama, do ensaio A Inexistente Arte da Decepção, do livro de poesias Faca Serena e O que é Pós-Moderno; responsável por oficinas de Literatura; ex-professor de Literatura Brasileira da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio; atualmente professor da mesma disciplina na Estação das Letras – Instituição de Ensino, no Rio de Janeiro

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Publicado

2022-01-20